3 de jan. de 2017

O Falso Dilema do Corredor: Porque Corrida Oficial é Diferente de Corrida-Treino?

Existem muitos tipos de corridas: de asfalto e no campo, longas e curtas, tranquilas ou puxadas.
Em todas elas, as corridas podem ser informais ou oficiais.

Muitos se perguntariam: porque pagar para correr em provas oficiais se é possível correr de graça, no mesmo percurso e sem um monte de gente para atrapalhar?

 Corrida Internacional de São Silvestre.
Bom, uma pessoa não é uma máquina e existem muitas peculiaridades envolvidas.
O que se pode afirmar com certeza, por observação, é que uma é totalmente diferente da outra!

Primeiro que correr oficialmente é como uma medida, uma festa e um desafio maximizado. É ao mesmo tempo aferição e emoção!
Segundo que você vai se preparar melhor para ir bem, vai treinar sistematicamente, com prazo para estar em condições; vai "entrar no clima", como se diz.
Terceiro, você se inspira com um evento que tem data, tensão, concorrência e público (e até pelo cerimonial que os organizadores promovem).
Quarto que na corrida o esportista é praticamente levado pela onda humana – puxado pelos que estão à frente e empurrado pelos que estão atrás!
Típico quadro de medalhas
de um desportista amador.
Até a vergonha de parar te faz se superar e arrancar forças não se sabe de onde!

E é por isso que durante a corrida – sofrendo pelo esforço intenso – você se pergunta: "o que eu estou fazendo aqui?", mas quando termina já quer, todo eufórico e satisfeito, ir outra vez!

E ainda tem as medalhas que ao final de um ano, juntando todas as corridas, te mostram o quanto você fez naquele período de tempo e nem percebeu!
E isto estimula o corredor de um modo que não é possível explicar.

Aliás, já está aberta a inscrição para a próxima corrida?


SuperAtivos
03/01/2016

27 de nov. de 2016

Os Níveis do Egoísmo

O ser humano é, fundamentalmente, um animal egoísta.

Egoísmo
Mas existem escalas para tal comportamento, que vai desde aquele que considera todos os seres vivos tão merecedores das benesses do mundo como ele mesmo, até aquele que só enxerga seu próprio umbigo e cujas relações sociais ou pessoais tem somente o objetivo de obter vantagens para si.

Eu identifico 5 níveis, que fica melhor se colocado em escala descendente: 4 para o egoísta completo, e 0 para o menor nível (egoísmo "zero"), característico do altruísta, do humanitário. No meio do caminho, a pessoa vai aumentando mais e mais a esfera integradora daqueles que ele deseja o bem tanto quanto para si.
Vejamos:

  • Egoísmo de nível 4. Somente eu!
  • Egoísmo de nível 3. Eu e minha família!
  • Egoísmo de nível 2. Eu, minha família e meus amigos!
  • Egoísmo de nível 1. Eu, minha família, meus amigos e meu País/raça/ideologia!
  • Egoísmo de nível 0. Todas as pessoas, o Mundo, o Universo!

Altruísmo
Muitas pessoas se transformam durante a vida, galgando níveis menos pesados no egoísmo.

E você, qual é o seu nível de egoísmo? Já sente a necessidade de diminuí-lo, abrindo-se para maiores e profundas interações?

Pensar somente em si é antinatural, destruindo relações e, até mesmo, a possibilidade de uma sociedade saudável.

O egoísta se apequena no mesmo nível do egoísmo que manifesta.



EdiVal
27/11/2016

5 de nov. de 2016

Amor em Tempos de Corrida

De acordo com o "manual da azaração", uma das indicações mais efetivas para se ter maiores chances de descolar um parceiro romântico, é a de "participar de tudo"; por exemplo, frequentar festas, bares, bailes, encontros religiosos/esotéricos, comícios e reuniões de condomínio, sem medo de desfilar o "corpticho" e "jogar um lero" na cabeça das(os) meninas(os).

Enfim, tem de aparecer, se mostrar, medir o seu valor no mercado.

Antigamente, as festas de igrejas conhecidas por "quermesse" eram o "ó do borogodó" para se achar um bem. As discotecas também eram uma ótima opção. Depois surgiram as "paqueras na avenida", com carro de som e animadores onde a garotada se reunia.
Hoje, em um mundo de mudanças intensas, temos novos "lugares" para flertar. Muitos deles podem ser encontrados nos eventos que reúnem pessoas que buscam uma vida mais saudável, como as academias e os eventos desportivos – notadamente as corridas.

Neste último caso, os clubes de corrida onde todos treinam para poder correr sem ter um infarto e para superar a si mesmos são um achado!
O ambiente de estímulo mútuo, onde todos estão querendo melhorar e ficar mais bonitos/saudáveis, é simplesmente perfeito! Já se começa bem, interagindo com pessoas que possuem afinidades desportivas e que buscam crescer. É ou não é mais fácil de se encontrar a cara-metade, aquela "maça do alto da árvore" que tanto se procura, neste ambiente do que num baile funk?
Olhem para estes casos reais:


 
Para ver mais sobre estes casais: aquiaqui, aqui e aqui.

E não só para encontrar o par-perfeito, mas também para unir o já encontrado! Pode-se dizer que "casais que malham/correm unidos, permanecem unidos".
Alguns já se aperceberam deste "nicho de mercado" e lançaram novos produtos. Vejam estes tipos de corridas:

 

Casais correndo amarrados
Casal 20.
Não podemos deixar de apontar outros efeitos típicos da prática desportiva e que melhoram tudo para um casal, tais como:
  • Regularização do sono. Mais descansados, o resto fica potencializado!
  • Melhora da performance física, como a resistência, então... de noite... ;)
  • Mais beleza física, sempre um elemento de atração para o outro!
  • Mais disposição para sair com seu par (ou não sair...).
  • A corrida libera endorfinas, e pessoas felizes são mais interessantes!
  • E, para melhorar ainda mais, ora ora ora...:


Enfim, para terminar este texto sobre amor entre desportistas com muita emoção, vejam um pedido de noivado realizado na linha de chegada da Meia Maratona do Rio (2016):

Flores, alianças e beijo selam amor de casal na linha de chegada.
E então, correr aumenta ou não aumenta a quantidade de amor no mundo?

SuperAtivos, 2016

1 de mai. de 2015

Personalidades Impossíveis – do Fanático ao Vampiro

Introdução.

Existem pessoas que apresentam uma faceta da personalidade muito forte e que, ao longo do tempo, torna uma convivência muito próxima tóxica, 
Às vezes você sente que tem algo muito errado na relação, talvez sem conseguir definir bem o que é, se sente mal e infeliz, mas por mais que tente não consegue sair da situação.
Procura, ad infinitum, conversar com a pessoa para melhorar a situação conflituosa, mas nada muda, nunca. Passam-se anos – talvez décadas – e é sempre a mesma situação que nos é apresentada pelo outro, mesmo sob o custo da infelicidade.

São pessoas cujas atitudes impossibilitam que se leve uma relação harmoniosa, longa e duradoura, porque possuem uma característica de personalidade destrutiva muito forte e imutável – impossíveis de se conviver sem conflito; impossíveis porque não aceitam mudar – geralmente levando a rupturas e muita dor para todos os envolvidos,

Se você tem saúde emocional suficiente, em algum momento acaba assumindo a impossibilidade de levar a situação adiante.
O certo é que "tapar o sol com a peneira" em uma situação de insatisfação nunca é o melhor; mas claro, também fique atento para suas responsabilidades nas situações que se apresentam.

Neste texto vou listar e discorrer sobre alguns dos tipos de personalidades que aqui denominei de "impossíveis" e que pude identificar ao longo do tempo.

O intuito é clarear a percepção em relação a estas personalidades, e assim adquirirmos ferramentas e conhecimento para melhorar ou mesmo salvar nossas relações.

As possíveis personalidades impossíveis são:

1. O Fanático. 

Com a personalidade fanática não tem conversa, não existe vida fora do que ele enxerga como o certo. São sempre obtusos, excludentes e julgadores. Se não aceitam mudar, fica realmente difícil a convivência.
É claro que se você amar o mesmo fanatismo, está tudo certo – mas somente para vocês!

2. O Ultra-sensível ou Chorão Eterno.

Ultra-sensíveis são incriticáveis. Qualquer coisa que você falar, mesmo com a melhor das intenções, será o motivo para crises desproporcionais de vitimismo. É o caso da mulher que chora por tudo fazendo o homem se sentir um maltratador de mulheres, ou do cara que fica amuado por dias. É uma técnica covarde de ganhar uma pendenga, onde tudo que disser – mesmo coerente – será usado para o choro eterno das vítimas inocentes desses monstros – no caso você!

3. O Racional Incriticável.

Racionaliza tudo, argumenta com lógica  irritantemente "irrefutável". Tudo parece uma disputa em que o prêmio são milhões de dólares. Assim, nunca se dão por vencidos, nunca vão admitir uma posição equivocada. No começo você até pode admirar a inteligência argumentativa, mas ao longo do tempo o que se conseguirá é o desgaste da relação. A única solução para este tipo é enxergar a necessidade e as razões do outro, e não tudo como uma mera competição intelectual.

4. O Traidor Inveterado.

Falo do galinha, do sedutor e da sedutora incorrigíveis. O flerte, neste caso, é um vício e uma necessidade constante; às vezes, acontece em um nível de "jogos de sedução", sem que se efetive a conjunção carnal, mas destrutivas mesmo assim.
Ninguém é dono de ninguém, e situações tentadoras surgem inexoravelmente. Contudo, se há apreço ao outro, a traição como necessidade e vício deve ser combatida.

5. O Imutável.

Aquele que não muda e não cresce – por não querer ou por ter medo (ou mesmo preguiça). Você passa anos, décadas cobrando, apontando o erro claro, mas não existe qualquer movimento da pessoa no sentido de mudar e crescer. Ou você desiste e aceita, ou abandona.

6. O Irritadiço.

São os portadores de uma TPM eterna. As mulheres poderão apresentar mais esta característica por uma questão hormonal, mas muitos homens também a tem. Ao longo do tempo, as explosões de ira, bem como a crítica exasperada e constante desgastam a relação. É o caso onde cabe mais diretamente algum tipo de ajuda profissional.

7. O Homem-Banana e a Maria-João.

Ouvi de muitas mulheres críticas ao "homem muito mole", o "bananão". A mulher geralmente espera do homem atitude, que resolva as coisas, que a proteja e cuide de sua família e de sua garota. Já o homem geralmente gosta de uma mulher que apresente um mínimo de feminilidade e de graça, mas existem algumas que são masculinizadas ao extremo: sentam largadas, falam palavrão de maneira chula e cospem em público. A rejeição do sexo oposto, nos dois casos, poderá ser grande – mas é claro que existem os que vão achar um charme (o que, indubitavelmente, não é o meu caso :/ ).

8. O Porco e/ou Depravado.

Falta higiene, falta pudor, falta noção de etiqueta.
Vão ao banheiro de porta aberta, não cuidam de manter um cheiro agradável, andam pelados sem medo da gravidade, não se cuidam.
Deve-se considerar que a capacidade de atração para o sexo oposto pode cair à níveis intoleráveis nestes casos. Mas se o outro apreciar, está tudo certo!

9. O Mentiroso.

Mentem por vício e por esporte, mentem e se enrolam em suas próprias mentiras. Se não mentem, aumentam tudo. Com a tempo a confiança vai para o saco.

10. O Manipulador.

Tenta te manipular todo o tempo (pode ser o tipo mentiroso). O tempo também mostra a capacidade destes de minar suas relações. Só uma baixa auto-estima pode tolerar manipulações como regra.

11. O Filhinho de Papai e/ou da Mamãe.

Pode ser o caso do homem-banana ou da patricinha – "tratados com leite de pera pela vovó". Mimados valem a pena como relação de longo prazo? Cada um diga por si...

12. O Vampiro de Energia. 

Também chamado de "seca-pimenteira".
O que são? Vampiros de energia são os seres especializados em sugar a energia vital dos que convivem com ela; para isso se valem de uma ou várias técnicas com o intuito de desestabilizar e desequilibrar a vítima, abrindo assim fissuras na psicosfera do pobre. Nos buracos criados é que o vampiro enfia seu canudinho e suga a vida que não consegue produzir por si mesmo.

Você vai se sentir esgotado, com vontade de sair correndo para longe mas sem noção clara do que esta acontecendo – uma situação sórdida, pois não queremos ser indelicados e magoar aquele que sentimos intuitivamente vontade de que espirrem para longe!
É necessário dizer que a característica básica da personalidade-vampira é o egoísmo. É uma verdade dura, mas digo também que todas as pessoas – em um ou outro momento – são os vampiros da história, o que é natural na vida humana.
Contudo, existem os que tem nesta condição uma característica básica da personalidade, daí a urgência. E não se esqueça da possibilidade – nada desconsiderável – de você ser um morcegão sem que se aperceba!
Existem vários tipos de vampiros de energia e em tal quantidade, que cada um dos seus tipos principais merece um olhar mais aprofundado, o que é feito nos próximos itens.

  • 12-a. O Pobre Coitado / Chorão. 

O coitadismo é uma posição extremamente sórdida. O outro é sempre um vilão, o mau, o feio, o algoz. A culpa é a maior arma dos coitadinhos e a lamentação seu discurso. Eles te cobram, te acusam, e se colocam como vítimas eternas de você: um monstro sem sentimentos nem piedade. Ao receber a marca do abusador, a culpa inocente ou a raiva pela injustiça é a rachadura por onde o "pobre coitado" lhe sugará até a alma. Cuidado com hipocondríacos, cobradores, reclamadores e lamentosos!

  • 12-b. O Falador Incontrolável. 

A pessoa fala, fala, fala muito! Sem parar! É mais comum às mulheres, mas não confunda com comunicabilidade extrovertida. Se não lhe faz mal, não é defeito, é qualidade!
O tipo patológico não trará uma troca de ideias, mas uma metralhada de frases que não chegam a um termo final; voará de um assunto a outro sem cerimônias. Não vai permitir a você se expressar também: te atropela, te esgota, te irrita.
Por falar em falar, às vezes uma conversa com o falador resolve a situação. Não se cale! :)

  • 12-c. O Belicista.

O vampiro do tipo bélico tentará te desestabilizar através do conflito, da raiva, da injustiça. Ele lhe atacará com argumentos raivosos que não pode concordar, pois sabe que não lhe cabem (mas pense bem depois sobre elas, só por garantia). Assim, fará você sentir revolta e vontade de revidar na mesma moeda: a desestabilização que ele precisava!
No final, o ente vampirizador estará exultante enquanto você nem conseguirá dormir naquela noite!

  • 12-d. O Julgador. 

Deixei este tipo por último para que sirva de sensor vampiresco: se você é a personalidade julgadora –  isto é, aquele está sempre sentado na cadeira do juiz com um dedo apontado para o próximo – deve ter lido os itens acima e identificado vários deles como pertinentes à maioria das pessoas que convive. Se assim foi, sinto muito lhe informar mas você pode ser um mala deste tipo – ou está muito mal acompanhado, o que também diz muita coisa sobre você.
O julgador (ou vampiro "criticador") está sempre olhando de cima, pensando mal, acusando os outros dos defeitos que identifica – aos montes, o tempo todo, em todo mundo. Poderá até acreditar que está fazendo justiça ou ajudando o criticado, mas... cuidado: o feio pode ser você!
Olhe para o próprio umbigo antes de julgar quem quer que seja.

Considerações Finais.

Você, caro leitor, identificou estas personalidades – do tipo impossíveis de se manter uma convivência próxima prolongada – presentes em sua vida?
E pior: identificou-se como portador de alguma(s) dela(s)?
Tomar consciência de uma má característica é o primeiro passo para abandonar a condição.

Se eu puder dizer algo mais sobre o tema, digo que saia de si mesmo, vá para a vida, olhe para os outros e coloque-se no lugar deles. Saiba que todos tem o direito de ter defeitos e "ideias bestas" – e não julgue ao modo de uma inquisição, pois somos todos seres altamente falhos.

Enfim, não condene ninguém, não jogue na fogueira, não aponte o dedo!

Mas não enxergar ou relevar demais também pode ser um erro. O que tiver de fazer, faça – com compaixão mas faça –, mesmo a si próprio!
E respire a vida, faça valer a pena!

O amor ao próximo e a si mesmo é a cura para todos estes males.
Quem ama, muda!

EdiVal
1/05/2015

12 de abr. de 2015

Os Fascinantes Encontros Entre Humanos e Animais

Já reparou, caro leitor, que geralmente um encontro inesperado com um animal selvagem no ambiente do mesmo é sempre algo marcante?


E o que, exatamente. quer dizer esta fascinação dos humanos quando se vêem, repentinamente, diante de outros animais?

Experienciamos um momento de excitação, de curiosidade, até mesmo de festa e regojizo; geralmente existe o antagonismo do medo misturado com o desejo de aproximação.

Queremos prolongar o momento e ficamos quietinhos por um tempo, só observando...
Cochichamos para alguém do lado, se não estivermos sós, "olha lá! olha lá!" seguido de um: "fica quieto!". Logo nos vemos diante de um dilema ocasionado pela vontade de interação e o desejo de prolongamento do encontro já que, muito provavelmente, ela irá fugir rapidamente ao nos perceber.

A Ciência diz que temos uma biofilia, na forma de uma ligação emocional instintiva com a natureza; eu diria que temos uma bio-atração, pois filia, significando "afeição", gera um conflito da semântica com a existência daqueles que estabelecem uma relação de crueldade com os animais.

Se no humano em consideração existe forte consciência ecológica e amor à natureza, ele vai desejar apenas a apreciação do encontro – quiça deseje uma improvável aceitação por parte do espécime; se, ao contrário, não existe a filia natural no humano do encontro, ele pode querer assustar o bicho para sua diversão, prendê-lo em jaulas, ou até matá-lo.
O primeiro vai reconhecer no animal um ente consciente e com direito a viver livre e a seguir seu destino de animal selvagem; o outro vai querer aprisionar ou sugar a vida e a alegria pueril que está à sua frente.

A indiferença, porém, é quase impossível de acontecer – eis um fato!

Então, qual o significado destes instintos naturais que afloram e efervescem em encontros inter-animais?

Minha hipótese é de que se trata de um rápido despertar de um sentimento místico de (re)união com a natureza, de religação com o espírito planetário que conduz e sustenta a vida – ligação esta que perdemos pela razão e civilização. É como se, no momento do encontro, tivéssemos um vislumbre saudoso do aconchegante útero perdido.

Se viemos, em nossas raízes ancestrais, da natureza selvagem e dela nos afastamos substancialmente, os animais, sendo as entidades que moram lá mas que também estão mais próximos a nós por terem sentidos, emoções e até habilidades cognitivas parecidas, se tornam um degrau que podemos alcançar e descer um pouco sem cair e, assim, permitem nos aproximarmos mais do colo que abandonamos à tanto.

São, portanto, o elo que nos aproxima mais intimamente do ventre em que fomos gerados através das eras: a natureza.

Mas só funciona se o encontro for na casa deles, longe da dureza do concreto e da artificialidade de nossas vidas civilizadas.

Nós somos parte da natureza, só nos esquecemos.
Os animais livres nos (re)lembram disso!

EdiVal
12/04/2015

30 de dez. de 2014

A Composição da Vida e as Cargas que Somos Obrigados a Carregar

Nosso passado são como vagões de uma composição, que vão se juntando com a medida exata de nosso andar. Como sabemos pelo peso que, às vezes, sentimos ser demasiado, nós somos a locomotiva que puxa a carga toda rumo a um destino que, inocentemente, tentamos controlar.

Todos carregam sua vida pretérita, sem exceção. Nada desaparece, nada é esquecido, pois todas as coisas que vivenciamos tem uma energia e não podem, portanto, ser destruídas.

O passado é, enfim, um trem com o tamanho da nossa vida, e em cada vagão jaz uma lembrança e um significado.

Cedo vem a todo ser vivo o peso do viver: o nascituro não é como folha branca, pois traz a carga daquilo que absorveu da mãe e do mini-mundo da barriga, seguido do trauma físico do nascimento (e, quem sabe, de uma existência anterior à fecundação?).
Estes são, inexoravelmente, os primeiros vagões da composição da vida de cada um de nós.

Conforme caminhamos, os acontecimentos adentram o passado que é um campo difuso e mal iluminado, pois a lanterna da consciência vive no presente, caminhando bem junto a nós na velocidade e no sentido da flecha do tempo.

Temos vagões fechados, semi-abertos e aqueles abertos e francos. Na penumbra das lembranças distantes – e nem sempre presentes na consciência objetiva – está tudo que passamos.

Nas profundezas da psique existe um universo inteiro a ser desvelado!

Consciente X Inconsciente.

Alguns vagões transportam cargas que, por sua própria força positiva, nos impulsionam para frente; outros, servem como freios, e temos de os arrastar. A força do primeiro é um vetor de sentido auxiliar – são lubrificantes da vida – e a do segundo vem no sentido contrário ao caminho que desejamos seguir: são os fardos atritosos.

E cada lembrança tem uma relação especial com a luz: alguns reluzem e nos retroalimentam; outros absorvem nossa luminosidade. Uns são estrelas e propiciam a vida; outros, buracos negros que sugam tudo, até a luz do presente.

Quais pontuam nosso céu? São as pessoas que nos alimentaram de nutrientes, de sentimentos e de sabedoria; são os passeios por lugares maravilhosos, é o totó que enriqueceu nossa infância com sua existência; são nossos amigos e companheiros com quem rimos e aprendemos.

Quais são os buracos-negros? São os traumas que, às vezes, nem estamos conscientes de sua existência; é o parente abusador (que pode ser, horror dos horrores, um dos que nos deu a vida); pode ser o "humano" horrível que vampirizou nossa alegria com violências inomináveis, e podem ser também as tragédias que levaram, tal qual tsunami, as coisas mais preciosas que possuíamos.

Um nos traz a primavera da vida, o outro a noite negra da alma.

Numa terapia podemos pegar – com esta ajuda externa – a lanterna do presente e trazer luz às cargas que estão nos atrasando. Ao vê-las e compreendê-las, deixamos ali um pouco da luz que as iluminou, e as apaziguamos, pacificamos, neutralizando um tanto de sua natureza sugadora.

Assim, podemos seguir em frente com menos carga, libertos de alguns freios que nos exauriam.

Autoconhecimento então é, também, olhar para trás e nos permitir ver e (re)conhecer a composição de nossa vida – que é, no final das contas, a construção de nós mesmos e grande responsável pelo que somos hoje.

Quem tem medo de olhar – sempre que for necessário – aquilo que carrega dentro de seus empoeirados vagões, perde a oportunidade de aliviar a carga de sua vida.

Auto-enfrentamento.


EdiVal.
30/12/2014

13 de out. de 2014

Geração k

Antigamente, se lia Machado de Assis de cabo a rabo.
Era a geração cabeça!

Depois, a molecada não aguentava nem ler um texto de duas páginas do começo ao fim. Tudo rápido, tudo sem aprofundamento, tudo superficial.
E surgiu a geração "só a cabecinha"!

Hoje, fiquei sabendo que a média de visualização de um vídeo do youtube é de 90 segundos. 1,5 minutinhos! Pensando melhor, o nome "cabecinha" é grande demais, nem vão ler! Vou diminuir um pouco:
É a geração "cabeci" (há! O som lembra algo que eles devem, cabalmente, ser, pois nunca "vão em frente"!)!

Agora, eu soube que metade das músicas do Spotify são ouvidas apenas parcialmente, ou seja, não possuem paciência nem para ouvir uma música de poucos minutos inteira!

Acho melhor deixar apenas como geração "ca", senão vão morrer de exaustão com tanta complexidade! Mas como sei como "ca" vai ser escrito em internetês, já adianto o processo:
É a geração k!

Olha só: se juntarmos numa mesma sala vários espécimes da geração k, temos um kkkkkk...!

Quá!

DiVal
13/10/2014

9 de set. de 2014

A MENSAGEM DAS ABELHAS

A MENSAGEM DAS ABELHAS

Elas contam que há algo terrível acontecendo – e que nós somos os responsáveis.


"Meu Deus, as abelhas estão sumindo..."

Este foi o primeiro pensamento que me veio – carregado de espanto, lamento e temor – quando me vi diante de uma notícia desconcertante e aterradora: milhões de abelhas estão desaparecendo mundo afora, fato este configurado na forma de uma desordem, um colapso sem precedentes cujas consequências futuras só podem ser muito ruins.

Ao mesmo tempo é, indubitavelmente, um sinal de alerta. Talvez o maior que a humanidade já recebeu.

Neste sentido, o título deste texto em caixa alta foi intencional: certas coisas, tamanha sua importância, justificam serem gritadas para que possam ser ouvidas e sentidas com intensidade, na esperança de que se transformem em um catalisador para que as necessárias reações ocorram.

As abelhas são um patrimônio da terra e da vida, mas estamos extinguindo-as.

A maioria das pessoas tem uma noção geral de que as abelhas exercem uma importante função polinizadora sobre as plantas, além de produzir mel e picadas; contudo, poucos tem a exata noção de que este trabalho que elas realizam é crucial para a manutenção da natureza como a conhecemos.

O maior gênio de todos os tempos não pareceu ser um destes ao profetizar, em uma frase atribuída a ele: "Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, ao homem apenas restam quatro anos de vida. Não há abelhas, não há polinização, não há plantas, não há animais, não há homem" (Albert Einstein).

Não acredito que esta frase de efeito carrega a verdade no tempo previsto, mas tem tudo para carregá-la no fato consumado; então, se você, caro leitor deste texto – intencionalmente escrito em tom apocalíptico – ainda não entendeu o que está acontecendo, sinta a dolorida picada: tem um grave problema ecológico acontecendo no mundo em que as protagonistas são as abelhas – e se nada for feito, elas podem ser EXTINTAS!

E não se iluda:

Se as abelhas desaparecem da terra, nós iremos de carona com elas, montados em suas asas derradeiras.

A janela da vida é muito pequena, e o equilíbrio da natureza extremamente complexo e sensível, provado pelas cinco extinções em massa que já ocorreram no passado do planeta terra.

E não, não adianta tentarmos amenizar este evento com o uso de mecanismos de fuga racionais, pois não se trata de uma nova teoria conspiratória, nem de uma nova palavra de ordem gritada por "eco-chatos"; tampouco é uma hipótese em que os próprios cientistas divergem, como no caso do aquecimento global (agora quase unanimidade). É um fato que já está trazendo prejuízos bilionários para a economia global – e só vem aumentando! Pesquise por "Desordem do Colapso das Colônias (DCC)" e veja por si.

Você lerá, entre outras informações relevantes, que os estudos realizados até o momento demonstram ser real aquela primeira desconfiança que vem à nossa cabeça – derivada de uma culpa indisfarçável: somos nós os responsáveis por tal calamidade! Pesticidas, poluição, aquecimento global, redução da diversidade e outros elementos destrutivos que criamos: este são – com destaque para o primeiro – os ingredientes principais do molho venenoso que alimenta esta tragédia de dimensões globais e que pode marcar um antes e um depois na história da vida no planeta e, por conseguinte, da humanidade.

E para não dizer que não falei de flores... pode-se dizer que no inconsciente coletivo da humanidade a imagem destes insetos está envolta em uma aura mágica, como se estes fossem trazidos diretamente do mundo dos elementais: eles polinizam as plantas, ajudando a prover nosso alimento; eles se alimentam de doces néctares sugados de coloridas e perfumadas flores; eles nos dão o dulcíssimo mel!

Além disso, vivem neste planeta como trabalhadores incansáveis há quase 100 milhões de anos. Até esta angustiante notícia reverberar mundo afora, as abelhas nos pareciam praticamente eternas.

Mas estão morrendo aos milhões e colmeias inteiras desaparecem, literalmente, do dia para a noite! 

E, por este motivo, são as abelhas protagonistas e mensageiras de uma tragédia que há tempos estamos ensaiando no grande palco planetário.

A verdade é que quando me deparei pela primeira vez com esta preocupante notícia, ano passado (2013), não pude deixar de sentir um medo estranho. Sou Físico, trabalho fazendo ciência em ambiente de laboratório, e por conta desta formação fui treinado para ser racional a maior. Tampouco sou adepto de teorias de conspiração; aliás, sou bem cético quanto à maioria absoluta delas.
Contudo, se assomou em mim um sentimento complexo quando tomei ciência do DCC: um misto de medo, apreensão e angústia! Naquele momento antevi uma ruptura – não tão distante como se possa pensar – do ciclo da vida como conhecemos, resultando em um meio ambiente mais pobre, com menos alimentos e seres viventes: o cenário perfeito para a sexta extinção em massa!

Um mundo semi-morto nos espera?

Foi um medo, em tudo, apocalíptico! Mais do que o aquecimento global, mais do que uma (sempre possível) nova guerra fria ou terceira guerra mundial; mais do que a ideia de asteroides gigantescos vindo em nossa direção (possibilidade esta também não desprezível).

É... as abelhas não são eternas, a natureza não é infinita, e a terra é uma só – apenas uma pequeninha rocha flutuando na imensidão do universo! E nós, apenas uma centelha, um milésimo de segundo perante a escala de tempo da vida.

Por estes motivos, a equiparação – já explorada em textos e vídeos espalhados por aí – me foi inevitável: me senti como verdadeiro integrante de uma casta de vírus que se reproduz descontroladamente e mata seu organismo hospedeiro. Não! Muito pior, porque os microrganismos não têm as tais "faculdades cognitivas superiores" (???) para inferir que, destruindo aquele mundo que lhes provem – enquanto vivo – tudo que lhes é necessário para sobreviver, morrerão também!

...

Estes somos nós?

Falta-nos algum tipo de inteligência, aquela que nos daria a noção de interdependência?
Ou somos nada mais nada menos do que megalomaníacos cegos, perdidos em nossas fantasias de omnipotência?

Temi, pela primeira vez, que a natureza estivesse verdadeiramente reagindo contra nossas ações destrutivas – tema central de muitos livros e filmes de ficção. Senti como se este acontecimento fosse a manifestação real da fantástica ideia de que a natureza se vinga; como se tivéssemos entrado numa espiral sem volta, resultado de nossas próprias ações e de um modus operanti suicida, produzida por uma espécie que se acha desvinculada e acima da própria natureza que a criou.

É o início do fim?
O carma humano está sendo resgatado do livro da vida pela mãe-natureza?
A lei de causa e efeito está finalmente agindo e se prepara para cobrar nossos crimes?

Causa e efeito... este conceito é, em tudo, classicamente físico e uma lei universal! Colhemos o que plantamos (Ciências Agrárias); tudo que sobe, desce (Gravitação de Newton); pequenas ações podem determinar grandes eventos futuros (Teoria do Caos); chutamos uma pedra e ela nos devolve o golpe com uma força de igual intensidade (Terceira Lei de Newton ou Princípio da Ação e Reação).

Enfim, estamos girando a roda que move o moinho sem pensar no amanhã e muito menos no que será triturado – e é aí que nascem das sementes que plantamos espinhos para perfurar nossa carne, e a pedra lançada e agredida pode quebrar nossa cabeça e machucar nosso pé, para que, assim, aprendamos nossas lições – crianças que somos experienciando todos os limites.

A verdade é que não existe uma segunda terra, e o tempo é uma flecha que só voa para frente. Na vida e na natureza existem muitos limites que, se ultrapassados, não haverá a oportunidade de se retornar para restaurar o que foi perdido. Indubitavelmente, uma eventual extinção dos insetos polinizadores é um destes limites, com previsões (quase unânimes) da gênese de uma sequência de eventos catastróficos que comprometerá o mundo como conhecemos.

Assim, pode-se afirmar que, se as abelhas desaparecerem por conta de nossas "burrações" (*), não sairemos somente feridos: definharemos aos bilhões pela diminuição drástica dos alimentos que o meio pode nos oferecer.

Ah! Morte grande, sofrida, chorada... o que se veria seriam séculos de ininterrupta e crescente bancarrota alimentar, subnutrição generalizada, fome, guerra, peste, morte, extinção... (se não como espécie, como civilização).

"É o final da vida e o início da sobrevivência" 

Vamos continuar agindo de forma arrogante e idiotamente suicida perante a natureza? Não vamos considerar este aviso pré-apocalíptico (provavelmente o maior de todos)?

E quando os seres humanos começarem a desaparecer também?

Que a mãe natureza possa nos perdoar, e nos ensine – em tempo e não com tanta dor – a viver em harmonia com o mundo e todos os seres que nele habitam: aqueles com quem compartilhamos este que é nosso único lar possível, nossa casa, fonte de calor, água, alimento, beleza e vida: o planeta Terra.

“Somente após a última árvore tiver sido cortada,
somente após o último rio tiver sido contaminado,
somente após o último peixe tiver sido pescado,
somente então vocês entenderão que dinheiro não se pode comer”.


(Provérbio indígena do povo norte-americano Cree)


Agosto-Setembro / 2014


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(**) "Burração": neologismo efêmero, nascido para viver somente neste bioma de letras, constrito aos domínios deste texto. Foi aqui criado para ilustrar e adjetivar as ações que os seres humanos fazem com interesses puramente imediatistas, nada holísticas, ameaçando o futuro deles mesmos. Resulta da contração dos termos da expressão "ações burras": perfeito adjetivo para a exposta falta da inteligência que nos daria a "noção de interdependência". É em tudo similar ao conceito de "inteligência emocional" que, estando em falta, destrói a vida de quem esta foi suprimida (porque, sem tal atributo, este só materializa... "burras ações"!). A diferença é que, no caso maior considerado aqui, de “burração” em “burração” vamos diminuindo nossas condições de vida e ameaçando nosso próprio futuro no planeta Terra.

2 de set. de 2014

Linchamento no Poste Virtual - em Defesa da Gremista do Grito Racista.

Sim, venho aqui defender a garota.
Não, não a acho inocente.
Sim, acho que ela deve pagar o crime cometido.

Contudo, existe um negócio chamado bom-senso.
E existem também as leis.
E mais: existe uma parte da sociedade extremamente violenta - aqueles que lincham meninos negros amarrados em poste, e também a senhora branca de Bíblia na mão porque achavam que ela era feiticeira (não, isso não é na África!).

Óbvio que essas pessoas estão na Internet também! E estão atacando apenas virtualmente porque não tem acesso à pessoa, porque se tivessem, o fariam fisicamente até esfacelar seu crânio.
Mas só o fazem em grupo ou com a certeza do anonimato, porque são todos COVARDES.
A casa já foi atacada.

Movidos pelo desejo de agredir, de matar, essas pessoas só precisam de um motivo para se sentirem livres para soltar seus demônios e dar vazão à sua gana assassina, seu desejo por sangue.
Não, não são pessoas boas revoltadas. São os que atiram pedras na mulher enterrada até a cabeça no chão para matar a "indigna".

Por isso, a gremista que encetou a cena de racismo gritado e televisado, deve ser protegida da horda sedenta de sangue para, até, ser julgada na forma da lei, pagar seus débitos e crescer como ser humano.

Um dado que me ajudou a formar uma opinião sobre o assunto foram as entrevistas realizadas com vizinhos negros da menina, que conviveram com ela, interagiram com ela, receberam-na em sua casa, e foram tratados com respeito e bom humor por ela. E por terem essa visão maior do conjunto complexo que é este ser humano que cometeu um erro, estão defendendo-na e, como disseram, estão com ela até o fim, apesar de acharem que deve haver o seguimento dos tramites legais. Mas nada mais que isso.

Há que se ter cuidado com vídeos. Uma narrativa do acontecido, apesar de definir perfeitamente o ato, teria muito menos peso e mais bom-senso.

Tudo bem, ver a cena induz o sentimento de revolta. Mas como seus vizinhos com propriedade disseram (porque tem mais informações que nós, o que dão a eles uma visão mais abrangente), "ela é uma menina normal que foi no embalo da multidão" e merece seguir a vida depois de pagar o erro cometido.

E que se encontrem e processem os outros espectadores que também protagonizaram cenas terríveis, caso contrário não haverá justiça - apenas um bode expiatório.

O que a garota fez foi feio de se ver e de se sentir, quando empaticamente nos colocamos no lugar do agredido, mas tudo tem a sua medida e seu recipiente.
Se é para se julgar, que seja sem ódio obnubilante e com visão de conjunto.
Este é um caso para 20 anos de reclusão? Para pena de morte? Óbvio que não.
Muito menos para linchamentos, que deve ser sempre REPUDIADO de todas as formas.

Não para a violência e o ódio, sempre!

O Jogador aranha, ao qual acompanhei várias falas e passei a admirar como pessoa, com certeza está com este espírito de que as coisas se deem no sentido de amenizar os ódios, os preconceitos, de haver uma mudança, e não mais violência.

Sim, é tanta raiva expressa, vinda de tantas pessoas, que a menina está pagando muito mais do que deveria! Que ela seja julgada. Que pague, que indenize financeiramente o Jogador por danos morais, se assim a justiça entender.
Mas, depois de pagar tudo que deve, espero que volte tendo aprendido sua lição e se recupere em todos os sentidos.

E que seja acolhida como pessoa melhor, se assim mudar.

Cuidado com todo ódio. Se você o sente, seja por que motivo for, ligue todos os alarmes: o lobo que existe em você está bem alimentado!

1 de set. de 2014

O Operador Morte: de Getúlio Vargas a Eduardo Campos

Em um texto anterior (aqui), brinquei com uma analogia na vida e na sociedade do conceito de operador: um ente matemático tal como a raiz quadrada de um número, a soma e subtração – ou mais complexos como os que atuam na Mecânica Quântica – transformando uma função em outra, mudando o estado daquilo que sofre sua atuação.

Achei interessante – num exercício de livre-pensamento – a transposição deste conceito matemático para conceituar aqueles eventos transformadores das coisas da vida e do mundo – tal como as pessoas, instituições e países.

Por conta desta ação, tudo é transportado de um estado anterior para outro, ulterior – que pode ser melhor ou pior, maior ou menor, mais simples ou mais complicado.

Dentre os muitos operadores possíveis para as hiper-complexas equações humanas, existe um que surge (como uma das únicas certezas humanas) e muda tudo, sempre.

Este super-operador é a senhora MORTE.




Poderosa e isenta de dúvidas –  inescapável extintora da vida, desagregadora das moléculas do corpo – faz o despejo da alma.

Ocasiona, também, ao meio onde o ente "operado" viveu, dor, vazio, comoção e outras transformações. Por tabela, muda a vida de muita gente - as vezes de nações inteiras!

Mas a mais pitoresca (e irracional) ação deste operador é tornar os atos do ex-vivo – principalmente os que antecederam imediatamente a morte – em algo transcendente, repleto de significado.

A morte operadora suprime  (ou mascara) a "parte má", e exalta (ou diviniza) a "parte boa" da pessoa extinta – se assim puder ser, de algum modo, interpretada. Além disso, pode gerar uma reação de aversão (ou revolta) sobre aqueles que estavam, antes, hostilizando o ente falecido, fato este que pode minar a força e poder de seus adversários (se existirem), e trazer acusações de toda sorte.

Após a operação desestabilizante de extinção da vida, a morte pode transformar um vilão em herói; um assassino/genocida em mártir; um ditador em pai da pátria!

Pode-se também, através deste operador, "sair da vida para entrar na história".

Getúlio Vargas, autor da frase acima, em 2014 volta à mídia devido ao aniversário de 60 anos de sua morte, operada por ele em si mesmo através de um ato suicida.

Outra morte em evidência nestes dias pré-eleições – e exemplo perfeito dos efeitos aqui pressupostos (e o motivador destes escritos) – foi a do candidato à presidência da República Eduardo Campos, em um fatídico acidente de avião.

Me chamou muito a atenção esta coincidência. Duas mortes que transformaram, traumaticamente e repentinamente, a cara do Brasil.

Exemplos de outros passamentos repletos de significado para o país foram as de Tancredo Neves, Tiradentes, Juscelino Kubitschek e Ulysses Guimarães.

Getúlio Vargas, 1954, sabia deste poder operatório e transformador da morte, e se utilizou destas propriedades para inverter a favor de seu grupo o estado político do Brasil à época. Vivia o famoso brasileiro, em seus dias derradeiros, uma situação entendida pelos historiadores como sem saída: ora denominado ditador, ora "pai dos pobres", estava – mesmo na condição de presidente eleito – para ser deposto pelas forças armadas e ser preso.
A morte operada por suas próprias mãos foi a solução encontrada por ele para esta situação –
calculada para ser um ato, antes de tudo, político.
A comoção nacional ante tão forte e tresloucado ato, traria tanto simbolismo e significado que iria destruir os planos de seus adversários, forçando-os a se colocar na defensiva. A força de seu suicídio traria a vitória, e Getúlio, morto, sairia para sempre do palco da vida para deitar, vitorioso, no berço esplêndido da nação. O poderoso operador morte levaria a nação de um estado a outro!

E assim foi: a operação mudou totalmente a função Brasil-1954, e com ela o estado das coisas e o destino da nação (como está amplamente registrado nos livros de história).

Tempos atuais: Eduardo Campos, 2014 – terceiro colocado nas pesquisas para presidente da República – dificilmente sairia desta colocação; segundo informações, ele sabia disto e sua verdadeira intenção seria de se projetar nacionalmente – com olhos fixos nas próximas eleições.

Marina Silva, a ecologista ex-companheira de Chico Mendes, a mulher franzina de projeção nacional, filha da floresta amazônica, era sua candidata a vice – posição acatada depois de muitas atribulações partidárias, pois a intenção mais profunda de Marina era a de concorrer à presidência – o que não pode fazer por força das circunstâncias.

Foi uma trama de acontecimentos difícil de entender que a levou a esta situação, e somente um fato excepcional tornaria possível seu desejo de mudar o estado: de candidata a vice para chefe do poder executivo.

Estavam, então, a poucos meses da eleição, com estabilidade de índices onde a disputa, se houvesse, seria polarizaria entre os dois outros partidos que há muito tempo se revezam no poder; mas, inesperadamente (como comumente acontece – sorrateira que é a moça da foice), a morte operou: um acidente de avião misterioso e fatídico que, ao explodir na cidade, desceu como uma bomba sobre a nação.

"Não pode ser verdade!" "Como?" "Porque?" "Parece coisa do destino".

Esta é a primeira ação das tragédias: o assombro, a dificuldade de acreditar; depois vem a busca do entendimento, dos porquês; em seguida a aceitação e adaptação, entremeada de teorias conspiratórias.

No meio de todas destas fases, a outra ação do operador-ceifador é tornar tudo maior que era: se antes se tratava de um "simples" candidato com seu índice de aceitação e de rejeição bem definidos (e com as inevitáveis denúncias e montagens na Internet sendo feitas como sempre se vê), Campos agora era o elemento surpresa, o salto no gráfico, o dono das emoções e pensamentos da nação.

A trajetória do falecido ganhou destaque e importância, impregnadas de uma certa "aura luminosa" de predestinação, onde até as coincidências são supervalorizadas: na sua última entrevista na TV, sua frase de efeito dita no encerramento, "não desistam do Brasil" soou, diante da tragédia (ocorrida logo após) como mantra, profecia, mandamento!

Tudo ganhou importância, ares de predestinação, de destino!

Por conta desta atmosfera, os adversários foram colocados em uma posição delicada.  Falar mal não seria mais de bom tom. Aliás, melhor entrar na onda e dizer que se é o verdadeiro herdeiro do legado do falecido. E foi o que aconteceu.

Por outro lado, os olhos se voltaram rapidamente para Marina. A equação, transposta de estado pelo operador morte, fechava a conta nela. Com a ex-seringueira como candidata no lugar de Campos, o destino parece se cumprir!

É uma mensagem subjacente, sentida, cheia da energia que vem do assombro e da estranheza. É o sentimento de predestinação.

Este é o exemplo perfeito da força das tragédias e da morte, de como eles brincam com a emoção de uma coletividade, transformando tudo, virando as peças de pernas pro ar e gerando uma nova realidade.
Tudo que foi dito aqui pode ser visto e sentido objetivamente olhando o gráfico com as intenções de voto desde antes do acidente:
Fonte: Blog Brasil Decide.

Assim, ao que tudo indica, o futuro do país tomou um novo rumo. Sai-se, por conta do acontecimento, de uma dicotomia de partidos e entra-se em uma terceira via; Marina, uma surpresa fora do comum desde outras eleições, sofre um golpe do destino a seu favor.

Se continuará assim, se será bom ou ruim, eu não sei, mas que foi mais um episódio histórico derivado de uma morte significativa para ser sempre lembrado – e que está desenhando novos caminhos para o Brasil – ninguém pode negar.

Somente o frio operador morte pode gerar transformações tão intensas em tão curtos períodos. Sai-se da vida e, indubitavelmente, se entra na História.

Contudo... que Deus nos livre deste operador!

DiVal.